O grupo de humor Porta dos Fundos teve sua sede atacada ontem, véspera de Natal, por terroristas utilizando coquetéis molotov. O motivo: o especial de Natal do grupo na Netflix em que retratam Jesus Cristo (interpretado por Gregório Duvivier) como homossexual.
Deixando de lado o caráter religioso e a ironia do ataque ter sido protagonizado por cristãos durante a véspera de Natal, no texto de hoje, vamos falar um pouco sobre a intolerância que estamos percebendo sobretudo no Brasil atualmente.
Uma das primeiras coisas que diferenciaram o ser humano dos outros animais é a sua capacidade de reconhecer padrões e se planejar com relação a eles. Da utilização de constelações para nos localizarmos em ambientes inóspitos à formulação de teorias científicas para entendermos melhor o universo que nos rodeia, temos utilizado essa capacidade para entender e modificar o mundo ao nosso gosto, tornando-o mais tolerável para vivermos com certa dose de conforto.
Contudo, por mais que esse seja um grande diferencial, com esse dom veio uma maldição: a tendência a simplificar a nossa visão com base em padrões que identificamos unicamente utilizando nossa própria percepção. Sobre esse assunto, devemos lembrar sempre que, ao utilizar somente nossa percepção para elaborar uma opinião, estamos deixando de considerar inúmeras outras variáveis que podem ser mais elaboradas que nossa experiência sobre o assunto ao qual estamos opinando.
“A grande maravilha do mundo hoje é que todos podem expressar suas opiniões e o grande problema do mundo hoje é que todos podemos expressar nossas opiniões.” (Leandro Karnal)
Nas palavras de Pedro Calabrez, neurocientista e estudioso da Psicologia Comportamental Humana, “nós temos a tendência a sempre querer colocar o mundo em uma categoria entre o preto e o branco e esse é um dos maiores erros do ser humano quando julga a vida.” Ele nos conta que “o nosso cérebro possui um modo automático que serve para economizar energia mas ele é incompatível com o mundo repleto de cada vez mais informações que precisamos processar antes de elaborarmos nossas opiniões. Dessa forma, quando você liga o seu modo automático, provavelmente estará sendo preconceituoso. Por isso precisamos nos esforçar para tentar enxergar que o problema do mundo não está em um partido político ou outro, em uma pessoa ou outra, etc.” Assim, quando você simplifica o mundo ao seu redor, baseando-se apenas na sua percepção dele, geralmente está alimentando preconceitos e, com isso, tornando-se um pouco mais ignorante.
Essa é a base para a intolerância. Mas como evitamos isso?
Hoje, no dia de Natal, nossa dica é: Lembre sempre que as diferenças nos tornam mais fortes. Utilizando o pensamento de Mário Sérgio Cortella, filósofo contemporâneo, “um adversário fraco te enfraquece, um concorrente burro te emburrece, uma oposição frágil fragiliza um governo.” Afinal, em que sua empresa precisa melhorar se o seu concorrente já é pior que você? Por que você precisaria melhorar seus argumentos e ponto de vista diante de pessoas que sempre concordam com suas opiniões? Reflita sobre isso.
Nós, assim como Jesus Cristo, sinceramente desejamos não só um Natal mas uma vida mais tolerante.